“Nova classe média é uma 'bobagem sociológica', já que o que houve foi a ampliação da classe trabalhadora.”
Marilena Chauí
No último sábado, dia 30 de março de 2013, eu estava assistindo
o programa “Esquenta” que é veiculado na TV Globo no inicio da tarde. O
programa é novo na grade da TV e é claramente direcionado para a suposta “Classe
C”. O programa tem muito samba, funk e uma linguagem estética direcionada para
os moradores dos subúrbios das grandes cidades.
Naquele dia
estava sendo apresentada a nova trilha sonora da série “A Grande Família”. O
ator Pedro Cardoso, que faz uma personagem muito popular, foi ao programa e opinou
sobre os motivos do sucesso do seriado, que já tem 13 anos na grade da emissora
carioca. O ator afirmou que a longevidade d’ “A Grande Família” se dá porque o
programa foi se transformando junto com o Brasil. Segundo ele, “desde os tempos
do presidente Fernando Henrique Cardoso o Brasil vem crescendo e se tornando
uma grande potência mundial”.
Discordo completamente do Pedro Cardoso. Não tenho dúvidas que
as grandes transformações sociais e econômicas no Brasil começaram a ocorrer
durante o governo do Partido dos Trabalhadores. Mas isso não é importante aqui.
Todo mundo pode e deve ter opinião sobre os fatos políticos do país.
Provavelmente o Pedro Cardoso não tem a mesma diversidade de informações sobre
o governo que eu tenho, ou simplesmente estava fazendo propaganda política de
uma linha ideológica que ele acredita.
O problema é um programa na TV aberta, ou seja, de concessão
pública, veicular apenas um tipo de opinião, um lado da informação. O “Esquenta”
tem em média 11 pontos de audiência. Isso que dizer que são cerca de 700 mil
brasileiros sendo informados e formados politicamente de forma simples, clara e
divertida.
Os grandes conglomerados de comunicação estão atentos à
ampliação da classe média trabalhadora e estão fazendo conteúdos de TV, rádios,
revistas, filmes, séries e etc. para esse mercado consumidor, que não é novo,
mas agora muito importante do ponto de vista comercial. Contudo, do ponto de
vista ideológico, nada mudou. O que é veiculado são os mesmo valores e costumes
da elite conservadora que agora estão sendo levados para ao suposta “classe C”.
Muito em breve, grande parte dessa classe trabalhadora que acendeu economicamente,
estará fazendo os mesmos discursos e repetindo os mesmo hábitos dos “Pedros
Cardosos” da vida.
A esquerda no Brasil precisa estar atenta e se mobilizar a favor
da democratização das comunicações e de um casamento entre as políticas de
comunicação com as políticas culturais. A transformação social não se dará
apenas com o aumento do poder econômico da classe trabalhadora, ela acontecerá
quando a esquerda conseguir conquistar corações e mentes em todo Brasil.
Eduardo Lurnel é gestor cultural e atualmente é assessor da Diretoria da Ancine.
Eduardo Lurnel é gestor cultural e atualmente é assessor da Diretoria da Ancine.